Wednesday, 1 May 2013

Primeira ministra negra da Itália é alvo de insultos racistas

ROMA — A nomeação de Cecile Kyenge como a primeira ministra negra da Itália - o que seria um símbolo da integração racial no país - levou um duro golpe quando Mario Borghezio, parlamentar integrante da Liga Norte, ridicularizou o que descrevia como o novo “governo bunga bunga”. Em uma entrevista à Radio 24, Borghezio afirmou que Cecile tentaria “impor as tradições tribais” do Congo na Itália. A repulsa gerada pelas declarações fez com que o governo autorizasse, nesta quarta-feira, a abertura de uma investigação de páginas fascistas na internet, cujos membros chamaram Cecile de “macaca congolesa”.
Cecile, de 48 anos, nasceu no Congo, país que deixou há três décadas para estudar medicina na Itália. Oftalmologista, ela vive em Modena, com seu marido italiano e seus dois filhos. Foi uma ativa integrante da centro-esquerda local até que conseguiu uma cadeira na Câmara de Deputados nas eleições de fevereiro.
Na semana passada, a médica foi escolhida pelo primeiro-ministro Enrico Letta como ministra de Integração, para formar o governo híbrido formado por ele e que conseguiu na terça-feira seu segundo voto de confiança no Parlamento. A congolesa respondeu aos insultos pelo Twitter e agradeceu aos que saíram em sua defesa.
“Acredito que até mesmo a crítica pode informar se for feita com respeito”, escreveu.
Josefa Idem, ex-canoísta e ministra italiana, pediu uma investigação contra os sites que chamaram Cecile de “Zulu” e “negra anti-italiana”.
- Estou fazendo isso na minha qualidade de ministra da Igualdade, mas acima de tudo como mulher - disse a alemã de 49 anos, que como Cecile se casou com um italiano e tem dupla cidadania.
Em seu discurso de apresentação no Parlamento, Letta descreveu a nomeação de Cecile como “um novo conceito sobre as barreiras que levam à esperança, sobre os limites intransponíveis que criam uma ponte entre comunidades diferentes”. A prioridade da ministra de Integração é o direito à nacionalidade italiana por nascimento. Atualmente a cidadania italiana se determina por filiação (direito de sangue).
- Provavelmente vou encontrar resistência, termos que trabalhar muito para chegar a isto. Uma criança, filha de imigrantes, que nasceu e cresceu aqui, deve ser cidadã italiana - afirmou Cecile.