LONDRES — Chefe da comunicação da Comissão de Política de Drogas do Reino Unido (UKDPC, na sigla em inglês), Leo Barasi coordenou a campanha de divulgação do estudo que ganhou as capas dos jornais britânicos. Ele explicou os principais objetivos do relatório, que provocou uma ampla discussão sobre a política pública britânica de combate às drogas, em entrevista ao GLOBO.
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Qual é o objetivo da comissão ao divulgar o relatório? Qual é a resposta que se espera do governo britânico?Leo Barasi: Queremos mostrar que é preciso rediscutir a política de drogas no Reino Unido. Está muito claro que temos que mudar. Apesar de o número de usuários estar em declínio nos últimos anos, uma tendência mundial, no Reino Unido ainda são 2 mil mortes a cada ano relacionadas ao uso de drogas. O que o relatório conclui é que estamos gastando dinheiro público e ainda perdendo vidas. E num contexto de crise econômica também é importante saber como e onde o dinheiro público está sendo investido. Dos 3 bilhões de libras (cerca de R$ 9,8 bilhões) gastos anualmente, dois terços são investidos em políticas que não alcançam bons resultados. O custo anual para a Inglaterra e o País de Gales com drogas de classificação A (como heroína, cocaína, ecstasy e LSD) é estimado em 15 bilhões de libras (R$ 49 bilhões).
Há três meses, a ministra do Interior, Theresa May, rejeitou qualquer discussão sobre a descriminalização de drogas. O relatório diz que uma nova abordagem é a descriminalização da posse de drogas, como a maconha, para uso pessoal. Como é possível mudar?
Leo Barasi: Estamos discutindo uma política que está aí há 40 anos. O que é dito no relatório é que o abrandamento da pena para uso de pequenas quantidades de maconha — com multas, por exemplo — não deverá levar ao aumento de usuários. O estudo não traz uma recomendação à descriminalização mais radical. O governo pode entender a importância do documento para o debate, mas não necessariamente respondê-lo. Mas esperamos que alguns pontos levantados pelo relatório possam ser considerados para uma mudança mais imediata. Por exemplo, em grande parte dos países europeus a política de drogas é tratada como um assunto de saúde pública, e no Reino Unido ainda está sob a responsabilidade do Ministério do Interior.
Quais são os próximos passos para o começo de uma nova política para as drogas?
Leo Barasi: A UKDPC espera pela divulgação em seis semanas do relatório sobre drogas da comissão da Câmara dos Comuns. Para este documento, o governo terá que responder detalhadamente a cada questão. E procuramos a Câmara dos Comuns para a apresentação em primeira mão das conclusões da nossa comissão. (Keith Vaz, representante do Partido Trabalhista e presidente da comissão da Câmara dos Comuns elogiou publicamente o documento da UKDPC pelo Twitter ontem).
Alguns jornais e rádios ingleses repetiram ao longo desta segunda que o relatório afirmava que fumar maconha não seria pior que comer junk food ou apostar, um velho hábito inglês. É isso mesmo?
Leo Barasi: Isso foi inventado pela imprensa. O que queremos dizer é que o cigarro, a junk food, as apostas, o álcool têm um nível de aceitação da sociedade. Esse é o caso das drogas. Nós sabemos que estão aí e que vão continuar existindo.