Premier libanês oferece deixar cargo, mas desiste após pedido de presidente:
BEIRUTE - Manifestantes e homens armados bloquearam estradas com pneus queimados em Beirute e outras cidades libanesas neste sábado, em protesto contra o assassinato do chefe de inteligência Wisaam al-Hassan, importante figura da oposição anti-Síria no Líbano. Soldados abriram fogo contra um grupo perto do vale de Bekaa, ferindo ao menos duas pessoas. Ainda nesta manhã, o premier Najib Mikati entregou sua carta de demissão ao presidente Michel Suleiman, que pediu que Mikati continuasse no cargo "por um tempo".
- Suspendi minha decisão de renunciar por pedido do presidente Michel Suleiman - disse Mikati. - Isto é um assunto nacional, e estamos interessados na preservação da nação. Não queremos deixar o Líbano no vazio. Peço que políticos se unam, deixem de lado as diferenças, e tornem a formação de um novo governo uma tarefa fácil.
Mikati, que é sunita mas faz parte de uma coalizão de maioria xiita, se viu pressionado a entregar o cargo após o ataque de sexta-feira, que deixou ao menos oito mortos no centro da capital Beirute. O bloco da oposição 14 de Março pediu a dissolução do governo. Questionado sobre a morte de Hassan, o premier disse que designou o caso para um conselho judicial.
O atentado - o primeiro do tipo em Beirute desde 2008 - elevou as tensões sectárias no país. Tropas reforçaram as estradas e prédios oficiais na capital, mas muitas vias - incluindo a que leva ao aeroporto internacional na capital - foram bloqueadas por manifestantes. Nas regiões sunitas de Beirute, carros com alto-falantes pediam a queda de Mikati.
Políticos acusaram o ditador sírio, Bashar al-Assad, por orquestrar o ataque a carro-bomba. O Líbano vive em apreensão, com medo de que o conflito sectário em Damasco ultrapasse suas fronteiras. O major-brigadeiro Wisaam al-Hassan liderou uma investigação que sugeriu o envolvimento da Síria e de seus aliados do Hezbollah na morte do premier Rafiq al-Hariri, em 2005. Hassan também ajudou a desvendar um plano terrorista, levando à prisão de um ex-ministro libanês pró-Assad em agosto passado.
- Ele (Hassan) teve um papel central na revelação de células terroristas desde 2006. Também foi importante na descoberta de um crime contra todo o Líbano e sua unidade (uma referência ao plano terrorista desbaratado este ano) - disse o presidente Michel Suleiman.
As comunidades religiosas no Líbano são divididas entre aquelas que apoiam o regime Assad - formado majoritariamente por alauitas - e os que defendem os rebeldes sunitas.
Segundo testemunhas, dezenas de homens armados tomaram às ruas do país, elevando o clima de tensão. Nas ruas de Trípoli, cidade de maioria sunita no norte do país, também havia homens armados nas ruas. Recentemente, a cidade foi palco de confrontos entre grupos pró e anti-Assad. Na cidade de Sidon, no sul, também houve manifestações. No bairro de Ashrafiyeh, onde aconteceu o atentado de sexta-feira, soldados e policiais vigiavam as ruas.
Os sunitas anunciaram três dias de luto pela morte de Hassan, que será enterrado no domingo. O jornal "Beirut Star" disse que os responsáveis pelo ataque de sexta-feira - que teria deixado mais de 100 feridos - tinham como objetivo incitar uma nova onda de violência no Líbano.
"Se o objetivo era tirar a atenção do que acontece na Síria, o povo deve lembrar bem disso e impedir novas tentativas de arrastar o Líbano para conflitos civis", escreveu o diário.
O filho de Hariri, Saad al-Hariri, acusou Assad de estar por trás da explosão. O chefe das Forças Internas de Segurança libanesas, major-general Ashraf Rifi, descreveu a morte de Hassan como uma "enorme perda" e alertou para a possibilidade de novos ataques similares.
- Nós perdemos um pilar central de segurança - disse o militar ao canal Future Television. - Sem dúvida, nós temos mais sacrifícios pela frente. Nós sabemos disso, mas não vamos ser derrotado.