Parlamento Europeu tem crise de imagem:
BRUXELAS — Mesmo para os europeus que não se opõem ativamente ao Parlamento Europeu, ele se tornou um poderoso símbolo de como as instituições concebidas para a construção de uma Europa unida claudicaram, uma vez que o projeto encara a mais grave crise de seus 60 anos de história. Uma pesquisa realizada em novembro passado constatou um “declínio acentuado” da imagem do Parlamento Europeu, em comparação com uma enquete semelhante de 2008. O Eurobarômetro, realizado pela TNS, revelou que 26% das 26.594 pessoas consultadas em toda a Europa tinham uma visão “negativa” do Parlamento, um aumento de nove pontos percentuais.
O Parlamento, com 754 membros, é a única engrenagem com eleições diretas do aparato que dirige a União Europeia. Mas a porcentagem de eleitores que vão às urnas a cada cinco anos caiu de mais de 60% para pouco mais de 40%, em menos de um quarto de século.
Em muitos dias, partes do prédio do Parlamento passam a sensação de uma feira extravagante. Lobistas empresariais organizam conferências em salas de reuniões, e refeições nas salas de jantar, a convite de deputados amistosos. Eles também montam exposições — algumas proibidas pelas diretrizes da própria Casa.
Recentemente, autoridades de Áustria, Romênia e Eslovênia acusaram representantes de suas nações de abuso de poder. Essas acusações se seguiram a um escândalo que começou em 2011, quando os deputados foram filmados aparentemente a postos para propor emendas em troca de dinheiro, numa operação realizada pelo “Sunday Times” de Londres.
Ernst Strasser, um ex-ministro do Interior austríaco que renunciou após as revelações, tinha pedido uma taxa anual de €100 mil (R$ 260 mil) de consultoria para manipular a legislação e pode receber uma pena de 10 anos de prisão se for considerado culpado, segundo o promotor público de Viena. Zoran Thaler, um ex-ministro do Exterior da Eslovênia, também renunciou depois das revelações.
Em julho, as autoridades romenas incluíram numa investigação Adrian Severin, um parlamentar e ex-ministro do Exterior, acusando-o de ajudar empresas romenas a vender “serviços fictícios” que tiraram do Parlamento um total de €436.663 (R$ 1.131.700).
O escândalo levou às criações do primeiro comitê de ética e da primeira proibição explícita de que deputados aceitem dinheiro em troca de mudanças na legislação. Mas os parlamentares são autorizados a manter um segundo emprego sem limites sobre os salários e a aceitar voos e acomodações sem declará-los todos.