TEL AVIV — Para os palestinos, a mudança de posição de Barack Obama é visível. Eles esperavam que Washington voltasse a pressionar Israel por um congelamento na construção e expansão de assentamentos - como o que aconteceu depois que Obama foi empossado para seu primeiro mandato, em 2009. Na época, o presidente pressionou o também recém-eleito premier israelense, Benjamin Netanyahu, a decretar uma moratória de dez meses na construção em assentamentos na Cisjordânia, que acabou não levando à volta das negociações porque o presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, considerou que ela não incluía os bairros árabes de Jerusalém Oriental.
As divergências de quinta-feira entre Obama e Abbas trouxeram à tona, novamente, a questão das colônias israelenses, um fenômeno iniciado após a Guerra dos Seis Dias, em 1967, quando Israel ocupou a Cisjordânia, a Faixa de Gaza, a península do Sinai e as Colinas de Golã. Hoje, cerca de 350 mil colonos moram em 121 assentamentos autorizados pelo governo israelense na Cisjordânia, além de outras 102 colônias construídas ilegalmente.
- Os israelenses dizem que essa terra está em disputa e que temos que negociar. Mas não há disputa. Essa terra é nossa e está ocupada por colonos - diz, sem hesitar, Daoud Za'tari, prefeito da cidade palestina de Hebron, no Sul da Cisjordânia. — Enquanto a expansão das colônias continuar, é sinal de que os israelenses não estão interessados em voltar à mesa de negociações.
Os assentamentos variam de pequenas comunidades com algumas dezenas de pessoas morando em trailers até verdadeiras cidades com toda a infraestrutura possível. Uma das maiores colônias, Maale Adumim, por exemplo, tem mais de 30 mil habitantes.
- Nunca existiu antes um Estado palestino. Essa exigência é irreal. A liderança israelense entende que seria suicídio para o país abrir mão da Cisjordânia em termos de segurança. Seria abrir as portas para que o Hezbollah e o Hamas começassem a atirar mísseis contra Tel Aviv - alega o colono David Wilder, um dos líderes da comunidade de 500 judeus que moram entre 300 mil muçulmanos em Hebron.
Em seu primeiro relatório sobre os assentamentos, divulgado em meados do 2012, a Comissão de Direitos Humanos da ONU afirmou que as colônias são um “crime contra a Humanidade” por violarem os direitos dos palestinos e a Quarta Convenção de Genebra, que regula práticas entre povos em guerra.
Segundo a ONG israelense Paz Agora, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu é um dos maiores construtores entre os líderes israelenses das últimas quatro décadas, resultado não só de convicções pessoais, mas dos acordos políticos com partidos ultranacionalistas. O Paz Agora classificou 2012 do “Ano do Assentamento”. Só em dezembro do ano passado, 11 mil unidades residenciais foram aprovadas para construção - mesmo número de toda a década anterior. Um dos planos mais controversos é o da chamada área E-1. Há 14 anos, há planos de construção nessa área, o que cortaria a ligação entre Jerusalém Oriental e Belém, no Sul da Cisjordânia. Mas, ano passado, o governo israelense ameaçou ir adiante com as obras, em retaliação ao pedido de Mahmoud Abbas pelo reconhecimento da Palestina como um Estado na Assembleia Geral da ONU.