Saturday, 11 May 2013

Nacionalismo começa a surgir na Irlanda do Norte como alternativa à polarização

BELFAST — Nem preto, nem branco. Se a história recente da província foi marcada pela polarização entre aqueles que acreditam que a região deveria permanecer no Reino Unido (os unionistas) e aqueles que queriam se juntar à República da Irlanda (nacionalistas), hoje um terceiro grupo pode se encarregar de mudá-la. Para a surpresa - e talvez alento - de muitos, por mais que as últimas pesquisas de opinião revelem que 40% da população ainda se sintam apenas britânicos e 25%, irlandeses, 21% já se dizem exclusivamente irlandeses do Norte.
Este, segundo o historiador da Universidade de Ulster, Seann Brenan, pode ser um bom sinal para o futuro. Quem sabe se, assim, irlandeses do Norte não estariam menos dispostos a brigar e, talvez até se tornar independentes. Em 2014, a Escócia realiza um referendo para consultar a população sobre a possibilidade de deixar o Reino Unido. Mas, para Neill Jackson, chefe do Departamento Executivo do Escritório do Primeiro-Ministro e do Vice-Primeiro-Ministro (OFMDFMNI, na sigla em inglês), esta ainda não seria uma alternativa viável.
- Somos mais realistas do que os escoceses. Sabemos que a Irlanda do Norte seria totalmente inviável independente - admitiu.
Hoje, a região depende do dinheiro que recebe de Londres. Cerca de 70% da mão de obra trabalha no setor público, que é financiado com dinheiro britânico, um fardo que os irlandeses não deverão querer assumir e um custo que os norte-irlandeses tampouco teriam como arcar no futuro próximo.
Para fortalecer a economia local, o governo vem tentando atrair investimentos e a instalação de empresas de setores de alta tecnologia na região. Para isso, segundo Tim Losty, diretor de Relações Internacionais do OFMDFMNI, a administração local já pediu a Londres medidas de incentivos fiscais para buscar competitividade. A resposta em Downing Street, em tempo de vacas magras e de sucessivos cortes orçamentários para fazer frente à crise global, foi que um pacote de vantagens poderia ser negociado, dando a entender que não promoveria reduções radicais de tributos.
Segundo ele, outra medida importante para se garantir a estabilidade econômica e social na província é continuar promovendo o fortalecimento das duas comunidades, para que o poder se mantenha compartilhado. Desde 1998, pelo Acordo de Belfast, o governo é sempre de coalizão. Quem tiver maioria na Assembleia da Irlanda do Norte, como é o caso dos unionistas, neste momento, indica o primeiro-ministro, que divide as responsabilidades com o vice, do partido opositor. O resto das pastas é compartilhada.
Reportagem publicada no vespertino digital “O Globo a Mais”