ISLAMABAD — Entre o colorido elenco de mulás, trabalhistas e idealistas nas eleições deste sábado no Paquistão, Bindia Rana se destaca. Ela é uma das primeiras integrantes da comunidade hijra, como são chamados os transgêneros no país, a se candidatar a um cargo eleito pelo voto popular. Frequentemente ridicularizados e atacados, os hijras são tratados como párias na sociedade paquistanesa. Muitos são atacados, estuprados ou explorados sexualmente.
- Os transgêneros recebem as primeiras ameaças da própria família - disse Rana, de 45 anos, em seu pequeno apartamento em Karachi. - Sempre digo aos transgêneros que aguentem as coisas ditas por parentes. É mais difícil tolerar as coisas ditas por outros.
Ex-dançarina e ativista há cinco anos, Rana é candidata independente à assembleia provincial de Sindh, no Sudeste do Paquistão. A Suprema Corte do país decidiu em 2011 que os hijras podiam ser registrados como “terceiro sexo” nas carteiras de identidade. Agora, com tal status, podem ser candidatos.
Rana dificilmente conquistará o cargo. Fora a posição complicada dos hijras na sociedade, ela tem pouco dinheiro para fazer campanha, enfrenta grandes partidos e ameaças a impedem de realizar reuniões. Ela ainda não sabe quem a está ameaçando e não vê por que chamar a polícia. Mais de 100 pessoas foram mortas em atos violentos relacionados à eleição, a maioria em ataques a bomba cometidos por talibãs:
- Mesmo se eu morrer, não acho que receberei justiça. Nenhum assassino enfrenta a lei no Paquistão.
Por outro lado, a candidata tem o apoio de parentes e amigos. E já venceu apenas por concorrer. depois de recorrer à Suprema Corte.
- Aquele foi o melhor dia da minha vida! - lembrou.